Artigo publicado no jornal “Estado de Minas” e “Gazeta de Minas”
“Nas grandes viagens devemos nos preocupar em usar roupas confortáveis”.
Vimos nos noticiários que o ator e cineasta Marcos Paulo faleceu ao chegar em casa. Ele vinha de um vôo Manaus-Rio de Janeiro. A morte foi atribuída a uma embolia pulmonar maciça, causada por coágulos sanguíneos formados nas veias das pernas. Por quê?
Em 1946, o professor John Homans, reconhecido angiologista, relatou, pela primeira vez, o caso de um paciente, médico, que, após um vôo de catorze horas, teve uma trombose venosa profunda. O que se lê e se escuta na mídia, atualmente, sobre a tal “síndrome da classe econômica” (SCE), também chamada síndrome do viajante, nada mais é que a velha história das embolias pulmonares.
Muitos conhecem aquela história de pacientes que foram bem operados e que ficaram uma semana em “repouso absoluto” no hospital. Estavam ótimos, mas, ao saírem (andando) do hospital, morreram na porta. Embolia pulmonar! A SCE e a trombose venosa profunda das pernas são componentes da mesma banda. Muitos fatores aumentam as chances de trombose (formação de coágulos) no sangue.
O sangue é um líquido vermelho com células que fluem pelos vasos sangüíneos. Se, por qualquer motivo, o sangue pára, ocorre a formação de um coágulo, ou seja, uma mistura gelatinosa, semelhante a um iogurte. À medida que o tempo passa, o coágulo vai ficando mais endurecido e, gradativamente, vai se agarrando às paredes dos vasos e causando uma inflamação, a flebite. Entretanto, se um segmento desse coágulo se desprender da parede da veia, geralmente, das pernas, navegará no meio do sangue, em direção ao coração. Quando o coágulo anda na veia, passa a se chamar êmbolo.
O problema é que este êmbolo pode ser grande e, depois de passar pelo coração, segue para o pulmão e pode ocluir uma artéria. A situação pode matar, porque o pulmão pode parar de funcionar! Por que ocorre uma trombose venosa profunda? (TVP)
Muitas causas são responsáveis por TVP, como as varizes, gravidez, pílulas anticoncepcionais, hormônios de reposição hormonal, tabagismo, desidratação, câncer, pós-operatórios, posturas errôneas (ficar em pé e ou assentado por longos períodos). A condição é chamada de trombofilia.
Na chamada SCE, o que ocorre é um conjunto destas causas. Os fatores pré-existentes são agravados por outros, durante o vôo. As pessoas mais susceptíveis que ficam assentadas, quase imóveis, durante horas e horas. A posição dificulta o fluxo do sangue. O ar seco do avião desidrata e contribui para a doença. A pressão do ar dentro da cabine não tem nada a ver, pois as aeronaves modernas apresentam uma pressão de ar semelhante à atmosférica, ou seja, uma pressão de cerca de mil a dois mil metros de altitude.
Quem toma um avião, ou mesmo um automóvel, ou um ônibus para uma grande viagem, deve se preocupar em usar roupas confortáveis. A pressão exagerada nas pernas pode represar o sangue e aumentar a chance de trombose nas pernas. O uso de meias elásticas medicinais é uma boa medida preventiva, pois exerce uma compressão gradativa, ajudando no fluxo de sangue nas pernas. Deve-se evitar o tabagismo, pois irrita as paredes venosas, favorecendo a formação de trombose. Durante o período de viagem, a recomendação é massagear os pés e pernas. Se possível, caminhar um pouco de um lado para outro, dentro do avião, ou nas paradas à beira das estradas. Suspirar profundamente, de vez em quando, ativa o fluxo do sangue.
Usar hormônios de reposição constitui um risco e deve ser avaliado por um médico. Quem tem varizes nos membros inferiores está completamente fora de moda, uma vez é possível eliminá-las com a escleroterapia com espuma, técnica de muito baixo risco com médicos treinados adequadamente.
Nos casos de risco aumentado, (trombofilias, avaliação do médico) vale usar aspirina e, até, heparina sub-cutânea, dependendo do caso, antes da viagem. É a tromboprofilaxia. Prevenir é sempre melhor.